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Todo desencontro nos traz um encontro

  • Foto do escritor: Phellipe Sousa
    Phellipe Sousa
  • 8 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

“Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino.”

(Marguerite Yourcenar)



Dia desses, ao entrar nas redes sociais, deparei ao acaso com a foto de um cara com quem eu saía num passado remoto, e peguei-me pensando sobre os caminhos pelos quais a vida tem me conduzido.


Na foto, ele aparecia radiante ao lado da esposa grávida. Nós nos distanciamos há algum tempo, portanto, eu desconhecia que ele havia casado, tampouco que seria pai. Porém, a imagem me fez ratificar aquilo que eu já sabia: nunca fomos pares e, por não sermos pares, não tínhamos o porquê dividir a vida.


Durante algum tempo, dividimos companhia, bom papo, vinho e prazer. Eu não consegui ir além. Ele era uma pessoa incrível, bacana, inteligente, divertido, cozinhava para nós, mas, isso, para mim, não é o suficiente para transformar alguém em namorado. A admiração é fundamental, mas ela sozinha torna o outro um amigo. A paixão que despertará um futuro amor é ingrediente fundamental no processo dos meus relacionamentos. Posso estar terrivelmente enganada, mas não sei viver de outra forma.


Há quem se instale na vida do outro por comodidade, por carência, por medo da solidão e até por utilidade, e aceita viver um romance morno, que atende um lado, mas frustra terrivelmente outro. Nossa biografia, lá na frente, cobrará o preço, e já não dará para voltar atrás. Como já disse por aqui inúmeras vezes, não tenho vocação para ser frustrada, por isso, opto por trilhar o meu caminho sozinha até que o amor recíproco me sorria ou até que chegue o fim dos meus dias. Jamais me ancorarei a ninguém. Não é justo comigo, não é justo com o outro.


Esse meu amigo insistiu para que ficássemos juntos e eu recuei. Pego-me pensando como seria se eu tivesse embarcado nessa relação. Será que hoje ele estaria vivendo esse momento tão especial para ele? Eu, mais velha e com um filho já criado, não seria mãe de um filho dele. Nossos planos de vida não convergiam. Ele, também divorciado, tinha em seu histórico a morte de um filho ainda na infância, sonhava em ser pai novamente. Isso me faz ter mais certeza sobre a responsabilidade e o respeito que temos que ter ao entrar e nos fixar na vida do outro. Esses imensos detalhes não podem ser negligenciados.


Um pensamento me levou a outro, e me questionei o porquê de o amor não ter abraçado essa nossa história. Essa e tantas outras que vivi e os vínculos afetivos não se estabeleceram. Tanta gente bacana que esbarrei e dividi apenas prazer. A vida tem seus propósitos e seus porquês e tento entendê-los, sem chegar à conclusão alguma. Apenas conjecturas, achismos, devaneios e afins.

 

Assistindo à série Maid, esse questionamento aflorou novamente. No enredo, a personagem Alex, interpretada por Margaret Qualley, vive o drama pessoal de um divórcio. Soma-se à sua bagagem uma filha pequena, uma mãe problemática, um pai negligente, um ex-marido alcoólatra e agressivo e um imenso abismo financeiro. Em meio à sua trajetória de lutas e dramas pessoais, tem o apoio e o amor de um amigo perdidamente apaixonado por ela. A antítese de seu ex-marido. Porém, Alex, apesar de tentar, não consegue levar o relacionamento adiante, pois o carinho e a gratidão não eram ingredientes suficientes para sustentá-lo. Da sua parte, faltou o amor.


Eu, no papel de espectadora, tive vontade de invadir a tela e pegá-la pelo pescoço, sacudindo-a até que se tocasse. Mas, no fundo, identifiquei-me profundamente com ela e me solidarizei com essa terrível e triste incompatibilidade de quereres. O querer gostar não nos faz gostar. Que pena! Se assim o fosse, evitaríamos tantos desgastes emocionais. Nosso coração teimoso, mas bem-intencionado, muitas vezes, insiste em gostar de quem não gosta da gente e vice-versa. Desencontros amorosos acontecem o tempo todo. Faz parte da caminhada da vida.


Recomendo a série. Chorei do primeiro ao último episódio. Piscianices, talvez. Vi um tanto de mim em cada um daqueles personagens perdidos em si mesmos e lutando para encontrar a saída do labirinto que suas vidas os conduziram. Ficção baseada na mais intensa realidade. Ali, não enxerguei o certo e o errado, enxerguei seres humanos vivendo suas frágeis existências, tentando combater seus lados menos iluminados e escalar o fundo do poço. Assistam! Sintam! Reflitam! Tirem suas próprias conclusões!


É preciso que nos olhemos com olhos amorosos e que nos cobremos menos. A vida é um grande ponto de interrogação e só temos o hoje, o instante. Que saibamos viver nos respeitando e, a partir daí, respeitar o próximo. Tudo começa no coração. De dentro para fora, de si para o outro.


E foi assim, refletindo a partir de uma foto, de uma história bem vivida que me fez ser feliz por um instante e para vida toda, de uma série, que fortaleci a minha convicção de que não adianta querer enfiar um pé 38 num sapatinho 35. Forçar a barra só trará dor e desconforto. Cinderella também é cultura!


Como diz o dito popular, “sempre existe um sapato velho para um pé descalço”. Seguimos!

 
 
 

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